sábado, 31 de março de 2012

Santificação completa - Perfeição cristã



Muitas vezes esta verdade é discutida sob o tema: "Perfeição cristã."

(a) Significado de perfeição. Há dois tipos de perfeição: absoluta e relativa. É absolutamente perfeito aquilo que não pode ser melhorado; isso pertence unicamente a Deus. E relativamente perfeito aquilo que cumpre o fim para o qual foi designado; essa perfeição é possível ao homem.
A palavra "perfeição", no Antigo Testamento, significa ser "sincero e reto" (Gên 6:9; Jó 1:1). Ao evitar os pecados das nações circunvizinhas, Israel podia ser uma nação "perfeita" (Deut. 18:13). No Antigo Testamento a essência da perfeição é o desejo e a determinação de fazer a vontade de Deus. Apesar dos pecados que mancharam sua carreira, Davi pode ser chamado um homem perfeito e "um homem segundo o coração de Deus", porque o motivo supremo de sua vida era fazer a vontade de Deus.
No Novo Testamento a palavra "perfeito" e seus derivados têm uma variedade de aplicações, e, portanto, deve ser interpretada segundo o sentido em que os termos são usados. 

Várias palavras gregas são usadas para expressar a idéia de perfeição: 

1) Uma dessas palavras significa ser completo no sentido de ser apto ou capaz para certa tarefa ou fim. (2Tm 3:17.) 
2) Outra denota certo fim alcançado por meio do crescimento mental e moral. (Mt 5:48; 19:21; Cl 1:28; 4:12 ; Hb 11:40.) 
3) A palavra usada em 2Co 13:9; Ef 4:12; Hb 13:21 significa um equipamento cabal. 
4) A palavra usada em 2Co 7:1 significa terminar, ou trazer a uma terminação. A palavra usada em Apo 3:2 significa fazer repleto, cumprir, encher (como uma rede), nivelar (um buraco).

A palavra "perfeito" descreve os seguintes aspectos da vida cristã: 

1) Perfeição de posição em Cristo (Hb 10:14) — o resultado da obra de Cristo por nós. 
2) Madureza e entendimento espiritual, em contraste com a infância espiritual. (1Co 2:6; 14:20;2Co 13:11; Fp 3:15; 2Tm 3:17) 
3) Perfeição progressiva. (Gl 3:3.) 
4) Perfeição em certos particulares: a vontade de Deus, o amor ao homem, e serviço. (Cl 4:12; Mt 5:48; Hb 13:21.) 
5) A perfeição final do indivíduo no céu. (Cl 1:28,22; Fp 3:12; 1Pd 5:10.) 
6) A perfeição final da igreja, ou o corpo de Cristo, isto é, o conjunto de crentes. (Ef 4:13; Jo 17:23.)

(b) Possibilidades de perfeição. O Novo Testamento apresenta dois aspectos gerais da perfeição: 
1) A perfeição como um dom da graça, o qual é a perfeita posição ou estado concedido ao arrependido em resposta à suafé em Cristo. Ele é considerado perfeito porque tem um Salvador perfeito e uma justiça perfeita. 
2) A perfeição como realmente efetuada no caráter do crente. É possível acentuar em demasia o primeiro aspecto e descuidar do Cristianismo prático. 
Tal aconteceu a certo indivíduo que, depois de ouvir uma palestra sobre a Vida Vitoriosa, disse ao pregador: "Tudo isso tenho em Cristo." "Mas o senhor tem isso consigo, agora, aqui em Glasgow?" foi a serena interrogação. Por outra parte, acentuando demais o segundo aspecto, alguns praticamente têm negado qualquer perfeição à parte do que eles encontram em sua própria experiência.

João Wesley (fundador do Metodismo) parece haver tomado uma posição intermediária entre os dois extremos. Ele reconhecia que a pessoa era santificada na conversão, mas afirmava a necessidade da inteira santificação como outra obra da graça. O que fazia essa experiência parecer necessária era o poder do pecado, que era a causa de o cristão ser derrotado. Essa bênção vem a quem buscar com fidelidade; o amor puro enche o coração e governa toda a obra e ação, resultando na destruição do poder do pecado.
Essa perfeição no amor não é considerada como perfeição absoluta, nem tampouco isenta o crente de vigilância e cuidados constantes. 
Wesley escreveu: "Creio que a pessoa cheia do amor de Deus ainda está propensa a transgressões involuntárias. Tais transgressões vocês poderão chamá-las de pecados, se quiserem; mais eu não." 
Quanto ao tempo da inteira santificação, Wesley escreveu:

"É esta morte para o pecado e renovação no amor, gradual ou instantânea? 
Um homem poderá estar à morte por algum tempo; no entanto, propriamente falando, não morre enquanto não chegar o instante em que a alma se separa do corpo; e nesse momento ele vive a vida da eternidade. Da mesma maneira a pessoa poderá estar morrendo para o pecado por algum tempo; entretanto, não está morto para o pecado enquanto o pecado não for separado de sua alma; é nesse momento que vive a plena vida de amor. E da mesma maneira que a mudança sofrida quando o corpo morre é duma qualidade diferente e infinitamente maior que qualquer outra que tenhamos conhecido antes, tão diferente que até então era impossível conceber, assim a mudança efetuada quando a alma morre para o pecado é duma classe diferente e infinitamente maior que qualquer outra experimentada antes, e que ninguém pode conceber até que a experimente. 
No entanto, essa pessoa continuará a crescer na graça, no conhecimento de Cristo, no amor e na imagem de Deus; e assim continuará, não somente até a morte, mas por toda a eternidade. Como esperaremos essa mudança? 
Não em um descuidado indiferentismo, ou indolente inatividade; mas em obediência vigorosa e universal, no cumprimento fiel dos mandamentos, em vigilância e trabalho, em negarmo-nos a nós mesmos, tomando diariamente a nossa cruz; como também em oração fervorosa e jejum, e atendendo bem às ordenanças de Deus. 
E se alguém pensa em obtê-la de alguma outra maneira (e conservá-la quando a haja obtido, mesmo quando a haja recebido na maior medida) esse alguém engana sua própria alma."

João Calvino, que acentuara a perfeição do crente pela consumada obra de Cristo, e que não era menos zeloso da santidade de que Wesley, dá o seguinte relato da perfeição cristã:

"Quando Deus nos reconcilia consigo mesmo, por meio da justiça de Cristo, e nos considera como justos por meio da livre remissão de nossos pecados, ele também habita em nós, pelo seu Espírito, e santifica-nos pelo seu poder, mortificando as concupiscências da nossa carne e formando o nosso coração em obediência à sua Palavra. Desse modo, nosso desejo principal vem a ser obedecer à sua vontade e promover a sua glória. Porém, ainda depois disso, permanece em nós bastante imperfeição para repelir o orgulho e constranger-nos à humildade." ( Ec 7:20; 1Re 8:46.)"

Ambas as opiniões, a perfeição como dom em Cristo e a perfeição como obra real efetuada em nós, são ensinadas nas Escrituras; o que Cristo fez por nós deve ser efetuado em nós. O Novo Testamento sustenta um ideal elevado de santidade e afirma a possibilidade de libertação do poder do pecado. Portanto, é dever do cristão esforçar-se para conseguir essa perfeição. (Fp 3:12; Hb 6:l.)
Em relação a isto devemos reconhecer que o progresso na santificação muitas vezes implica uma crise na experiência, quase tão definida como a da conversão. Por um meio ou outro, o crente recebe uma revelação da santidade de Deus e da possibilidade de andar mais perto dele, e essa experiência é seguida por um conhecimento interior de ter ainda alguma contaminação. (Is 6.) Ele chegou a uma encruzilhada na sua experiência cristã, na qual deverá decidir se há de retroceder ou seguir avante, com Deus. 
Confessando seus fracassos passados, ele faz uma reconsagração, e, como resultado, recebe um novo aumento de paz, gozo e vitória, e também o testemunho de que Deus aceitou sua consagração. Alguns têm chamado a essa experiência uma segunda obra da graça.

Ainda haverá tentação de fora e de dentro, e daí a necessidade de vigilância (Gl 6:1; 1Co 10:12); 
a carne é fraca e o cristão está livre para ceder, pois está em estado de prova (Gl 5:17; Rm 7:18, Fp 3:8); 
seu conhecimento é parcial e falho; portanto, pode estar sujeito a pecados de ignorância. Porém ele pode seguir avante, certo de que pode resistir e vencer toda a tentação que reconheça (Tg 4:7; 1Co 10:13; Rm 6:14; Ef 6:13,14); 
pode estar sempre glorificando a Deus cheio dos frutos de justiça (1Co 10:31; Cl 1:10); 
pode possuir a graça e o poder do Espírito e andar em plena comunhão com Deus (Gl 5:22, 23; Ef 5:18; Cl 1:10,11; 1Jo 1:7); 
pode ter a purificação constante do sangue de Cristo e assim estar sem culpa perante Deus. (1Jo 1:7; Fp 2:15; 1Ts 5:23).

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