Muitos cristãos descobrem o
fato de que seu maior impedimento em chegar à santidade é a "carne",
a qual frustra sua marcha para a perfeição. Como se conseguirá libertação da
carne?
Três opiniões erradas têm sido expostas:
(a) "Erradicação"
do pecado inato é uma dessas idéias. Assim escreve Lewis Sperry Chafer:
"se a erradicação da natureza pecaminosa se consumasse, não haveria a
morte física, pois esta é o resultado dessa natureza. (Rm 5:12-21.) Pais que
houvessem experimentado essa "extirpação", necessariamente gerariam
filhos sem a natureza pecaminosa. Mas, mesmo que fosse realidade essa
"extirpação", ainda haveria o conflito com o mundo, a carne (à parte
da natureza pecaminosa) e o diabo; pois a "extirpação" desses males é
obviamente antibíblica e não está incluída na própria teoria.
A erradicação é também
contrária à experiência.
(b) Legalismo, ou
a observância de regras e regulamentos. Paulo ensina que a lei não pode
santificar (Rm 6), assim como também não pode justificar (Rm 3). Essa verdade
é exposta e desenvolvida na carta aos Gálatas. Paulo não está de nenhuma
maneira depreciando a lei. Ele a está defendendo contra conceitos errôneos
quanto a seu propósito. Se um homem for salvo do pecado, terá que ser por um
poder à parte de si mesmo. Vamos empregar a ilustração dum termômetro. O tubo e
o mercúrio representam o indivíduo. O registro dos graus representará a lei.
Imaginem o termômetro dizendo:
"Hoje não estou funcionando exatamente;
devo chegar no máximo a 30 graus." Será que o termômetro poderia elevar-se
à temperatura exigida? Não, deveria depender duma condição/ora dele mesmo. Da
mesma maneira o homem que percebe não estar à altura do ideal divino não pode
elevar-se em um esforço por alcançá-lo. Sobre ele deve operar uma força à parte
dele mesmo; essa força é o poder do Espírito Santo.
(c)
Ascetismo. É a tentativa de
subjugar a carne e alcançar a santidade por meio de privações e sofrimentos — o
método que seguem os católicos romanos e os hindus ascéticos.
Esse método parece estar baseado
na antiga crença pagã de que toda matéria, incluindo o corpo, é má. O corpo,
por conseguinte, é uma trava ao espírito, e quanto mais for castigado e
subjugado, mais depressa se libertará o espírito. Isso é contrário às
Escrituras, que ensinam que Deus criou tudo muito bom. É a alma e não o corpo
que peca; portanto, são os impulsos pecaminosos que devem ser subjugados, e não
a carne material. Ascetismo é uma tentativa de matar o "eu", mas o
"eu" não pode vencer o "eu". Essa é a obra do Espírito.
O verdadeiro método da santificação.
O método bíblico de tratar
com a carne, deve basear-se obviamente, na provisão objetiva para a salvação, o
sangue de Cristo; e na provisão subjetiva, o Espírito Santo. A libertação do
poder da carne, portanto, deve vir por meio da fé na expiação e por entregar-se
à ação do Espírito. O primeiro é tratado no sexto capítulo de Romanos, e o
segundo na primeira parte do capítulo oitavo.
(a) Fé na expiação. Imaginemos que houvesse judeus presentes (o que
sucedia com freqüência) enquanto Paulo expunha a doutrina da purificação pela
fé. Nós os imaginamos dizendo em protesto: "Isso é uma heresia do tipo
mais perigoso!" Dizer ao povo que precisam crer unicamente em Jesus, e que
nada podem fazer quanto à sua salvação porque ela é pela graça de Deus, tudo
isso resultará em que descuidarão de sua maneira de viver. Eles julgarão que
pouco importa o que façam, uma vez que creiam. Sua doutrina de fé
fomenta o pecado. Se a justificação é pela graça e nada mais, sem obras, por
que então romper com o pecado? Por que não continuar no pecado para que abunde
ainda mais a graça?
Os inimigos de Paulo efetivamente o acusaram de pregar tal
doutrina. (Rm 3:8; 6:1.) Com indignação Paulo repudiou tal perversão.
"De modo nenhum . Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos
ainda nele?" (Rm 6:2). A continuação no pecado é impossível a um homem
verdadeiramente justificado, em razão de sua união com Cristo na morte e na
vida. (Mt 6:24.) Em virtude de sua fé em Cristo, o homem salvo passou
por uma experiência que inclui um rompimento tão completo com o pecado, que se
descreve como morte para o pecado, e uma transformação tão radical que se
descreve como ressurreição. Essa experiência é figurada no batismo nas águas. A
imersão do convertido testifica do fato que em razão de sua união com o Cristo
crucificado ele morreu para o pecado; ser levantado da água testifica que seu
contacto com o Cristo ressuscitado significa que "como Cristo ressuscitou
dos mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de
vida" (Rm 6:4). Cristo morreu pelo pecado a fim de que nós
morrêssemos para o pecado.
"Aquele que está morto
está justificado do pecado" (Rm 6:7). A morte cancela todas as
obrigações e rompe todos os laços. Por meio da união com Cristo, o cristão
morreu para a vida antiga, e os grilhões do pecado foram quebrados. Como a
morte dava fim à servidão do escravo, assim a morte do crente, que morreu para
o mundo, o libertou da servidão ao pecado. Continuando a ilustração: A lei
nenhuma jurisdição tem sobre um homem morto. Não importa qual seja o crime que
haja cometido, uma vez morto, já está fora do poder da justiça humana. Da mesma
maneira, a lei de Moisés, muitas vezes violada pelo convertido, não o pode
"prender", pois, em virtude de sua experiência com Cristo, ele está
"morto". (Rm 7:1-4; 2Co 5:14.)
"Sabendo que, havendo
Cristo ressuscitado dos mortos, já não morre; a morte não mais terá domínio
sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado, mas,
quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos como mortos
para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor" (Rm 6:9-11).
A morte de Cristo pôs fim a esse estado terrenal no qual ele teve contacto como
o pecado; sua vida agora é uma constante comunhão com Deus. Os cristãos, ainda
que estejam no mundo, podem participar de sua experiência, porque estão unidos
a ele. Como podem participar? "Considerai-vos como mortos para o pecado,
nas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor." Que significa isso?
Deus já disse que por meio da nossa fé em Cristo, estamos mortos para o
pecado e vivos para a justiça. Resta uma coisa a fazer; crer em Deus e
considerar ou concluir que estamos mortos para o pecado. Deus declarou que
quando Cristo morreu, nós morremos para o pecado; quando ele ressuscitou, nós
ressuscitamos para viver uma nova vida. Devemos continuar considerando esses
fatos como absolutamente certos; e, ao considerá-los assim, tornar-se-ão
poderosos em nossa vida, pois, seremos o que reconhecemos que somos. Uma
distinção importante tem sido assinalada, a saber, a distinção entre as
promessas e os fatos da Bíblia. Jesus disse:
"Se vós estiverdes
em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e
vos será feito" (Jo 15:7). Essa é uma promessa, porque está no futuro; é
algo para ser feito. Mas quando Paulo disse que "Cristo
morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras", ele está declarando um
fato, algo que foi feito. Vide a expressão de Pedro: "Pelas suas
feridas fostes sarados" (1Pd 2:24). E quando Paulo declara
"que o nosso homem velho foi com ele crucificado", ele está
declarando um fato, algo que aconteceu. A questão agora é: estamos dispostos ou
não a crer no que Deus declara que são
fatos acerca de nós? Porque a fé é a mão que aceita o que Deus gratuitamente
oferece.
Será que o ato de descobrir a
relação com Cristo não constitui a experiência que alguns têm descrito como
"a segunda obra da graça"?
(b) Cooperação com o
Espírito. Os capítulos 7 e 8 de Romanos continuam o assunto da
santificação; tratam da libertação do crente do poder do pecado, e do
crescimento em santidade. No cap. 6 vimos que a vitória sobre o poder do pecado
foi obtida pela/é. O capítulo 8 apresenta outro aliado na batalha contra o
pecado — o Espírito Santo.
Como fundo para o capítulo 8
estuda-se a linha de pensamento no cap. 7, o qual descreve um homem voltando-se
para a lei a fim de alcançar santificação. Paulo demonstra aqui a impotência da
lei para salvar e santificar, não porque a lei não seja boa, mas por causa da
inclinação pecaminosa da natureza humana, conhecida como a "carne".
Ele indica que a lei revela o fato (v. 7), a ocasião (v.8), o poder (v.9), a
falsidade (v. 11), o efeito (vs. 10,11), e a vileza do pecado (vs. 12,13).
Paulo, que parece estar
descrevendo sua própria experiência passada, diz-nos que a própria lei, que ele
tão ardentemente desejava observar, suscitava impulsos pecaminosos dentro dele.
O resultado foi "guerra civil" na sua alma. Ele é impedido de fazer o
bem que deseja fazer, e impelido a fazer o que odeia. "Acho então esta lei
em mim; que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o
homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra
lei que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do
pecado que está nos meus membros" (vs. 21-23).
A última parte do capítulo 7,
evidentemente, apresenta o quadro do homem debaixo da lei, que descobriu a
perscrutadora espiritualidade da lei, mas em cada intento de observá-la se vê
impedido pelo pecado que habita nele. Por que descreve Paulo esse conflito?
Para demonstrar que a lei é tão impotente para santificar como o é para
justificar.
"Miserável homem que eu
sou! quem me livrará do corpo desta morte?" (v. 24; 6:6). E Paulo, que
descrevia a experiência debaixo da lei, assim testifica alegremente de sua
experiência debaixo da graça: "Dou graças a Deus (que a vitória vem) por
Jesus Cristo nosso Senhor" (v. 25). Com essa exclamação de triunfo
entramos no maravilhoso capítulo oitavo, que tem por tema dominante a
libertação da natureza pecaminosa pelo poder do Espírito Santo.
Há três mortes das quais o
crente deve participar:
1) A morte no pecado, isto é, nossa condenação.
(Ef 2:1; Cl 2:13.) O pecado havia conduzido a alma a essa condição, cujo
castigo é a morte espiritual ou separação de Deus.
2) A morte pelo pecado,
isto é, nossa justificação. Cristo sofreu sobre a cruz a sentença duma lei
infligida, e nós, por conseguinte, somos considerados como a havendo sofrido
nele. O que ele fez por nós é considerado como se fosse feito por nós
mesmos. (2Co 5:14; Gl 2:20.) Somos considerados legal ou judicialmente
livres da pena duma lei violada, uma vez que pela fé pessoal consentimos na
transação.
3) A morte para o pecado, isto é, nossa santificação. (Rm
6:11.) O que é certo para nós deve ser feito real em nós; o que é
judicial deve se tornar prático; a morte para a pena do pecado deve ser seguida
pela morte para o poder do pecado.
E essa é a obra do Espírito Santo. (Rm
8:13.) Assim como a seiva que ascende na árvore elimina as folhas mortas que
ficaram presas aos ramos, apesar da neve e das tempestades, assim o Espírito
Santo, que habita em nós, elimina as imperfeições e os hábitos da vida antiga.
***
Citando Myer Pearlman
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